domingo, 7 de julho de 2013

Chocolate é o melhor aliado


Já mencionei aqui que as lembranças. Têm a força de te deixar para baixo ou te carregar para um mundo de onde você nunca mais quer voltar...

Quando eu tinha 7 ou 6 anos de idade, eu tinha uma namorada na escola. Sim na pré escola. ("Mas você era muito novo pra saber o que era isso" " claro que tinha, ahaaam". "mimimi" Foda-se,) e na época tudo o que eu conhecia sobre amor e relacionamentos era o que eu assistia em Chiquititas ( shame on me).
Porém um dia, eu aprendi da pior maneira que relacionamentos são bons, mas podem causar um impacto emocional destruidor quando acabam.
Cheguei a escola e como todas as manhãs guardei um lugar para a "namorada" e emprestei os materiais, dividimos lápis de cor, fizemos cartões um para o outro. Aquilo que achávamos ser um relacionamento que era apenas uma brincadeira inocente. 
No recreio fui encontrar ela com algumas amigas quando percebi que algo errado estava prestes a acontecer. Foram os piores momentos da minha vida. Posso ter tido experiências que seriam mais traumatizantes, mas você nunca esquece o primeiro acidente de carro ou sua primeira cirurgia. Assim como eu estava prestes a ter a mais dolorosa memória de um coração partido pela primeira vez. 
A garota afirmou ter me visto com outra no caminho para o pátio trocando beijos, e que a sua melhor amiga era a testemunha disso. Obviamente eu não sabia do que estavam falando e até tentei negar mas elas sairam e depois do recreio eu sentei com os excluídos da sala pois era lá que se encontrava minha lancheira ao chegar do intervalo. 
Entrei no estado automático e fui até o ônibus. Era o último a ser entregue pois morava no bairro mais distante na época e no caminho minha irmã tentou me fazer cócegas ou me animar mas não conseguiu tirar nada além de sorrisos tortos. 
No instante que entrei em casa minha mãe perguntou o que minha irmã tinha me feito para eu estar com cara de choro. (irmãos mais velhos, entendam, vocês sempre levarão a culpa). eu abracei ela bem forte e comecei a chorar muito. Certo, estou com um sorriso no rosto agora por desenterrar isso e imaginar a cena vista de cima, como apenas parte da plateia. E eu sei que muitos não acreditam pois parece ser muito drama para uma criança, mas perguntem a minha irmã ou mãe e elas poderão confirmar toda a história. 
Em prantos e agarrado na perna da minha mãe eu tentei explicar que a "Fulana" tinha terminado comigo por causa que Siclana tinha me visto com outra garota. 
Eu não sei quanto tempo levou para minha mãe parar de rir, junto com minha irmã. E eu acho que ri junto com o nervosismo, mas depois que eu me acalmei um pouco, minha mãe nos levou até a cozinha aonde ela já estava se preparando para fazer um bolo. 
Ali ela ensinou a fazer "nega maluca" e eu basicamente quebrei dois ou três ovos no chão antes de acertar a bacia.( se for contar, até hoje eu já sacrifiquei uma granja inteira, pois eu sempre derrubo um no chão). Ela colocou para assar, e fez a cobertura. Depois de alguns minutos esfriando nós sentamos para comer e eu ainda estava ranhentinho de tanto chorar, mas aquele bolo estava bom. Eu não digo isso pelo sabor ao paladar, mas ao coração.
Chocolate sempre foi um grande aliado de corações partidos, mas aquele bolo vinha com um carinho e um amor que eu não encontrei igual até hoje. Minha mãe naquele dia me mostrou que na vida eu ia ter meu coração partido, e quem sabe eu nem tenha feito algo por merecer isso, mas que sempre haveria um jeito de adoçar a vida e fazer dela uma deliciosa brincadeira.
Eu aprendi a ler cedo e sempre fui adepto a romances. Sempre tive esse tipo de carência exagerada de achar que alguém que me fizesse sentir assim como minha mãe fez iria aparecer. Sim eu sei que muitos garotos pensam que toda garota que eles conhecem pode ser o amor da sua vida, mas isso é pelo fato que garotos não são nada bons com sentimentos.
São fujões. Muitas vezes a falta de atitude é o medo de entrar nesse campo desconhecido das emoções. Para uma garota, sim é mais intenso, mas ela é sentimental por natureza (umas mais, outras menos) e sabem lidar com isso eventualmente. Mas para um garoto, não existe plano de fuga em potes de sorvete e barras de chocolate. Para mim não existiria se não fosse aquele bolo com sabor de um abraço forte. 
Eventualmente as coisas tem um fim. Os "para sempre" que queremos que existam, podem não durar o quanto queremos que durem. Posso fugir para os livros e preferir me calar do que correr atrás ou tomar uma atitude. 
Os olhos puxados, o sorriso de covinhas, os allstars, gostar de pokemon, curtir as mesmas músicas old school, querer ir para Nárnia, e me fazer sentir normal e abafar todos os paradigmas que fazem um barulho enorme nos nossos pensamentos. Isso é um sonho, assim como sonhar que o ser humano pode voar sem ser em um avião ou em um videogame. Eventualmente, haverá um momento. Um daqueles que eu não planejei, e que vai ser único. Mas enquanto esse momento não chega, e eu não quero apressar para isso, eu vou continuar sonhando. 
Não existe a pessoa perfeita, mas existe aquela pessoa errada que completa o nosso jeito errado de ver o mundo e chamamos isso de perfeito e blá blá blá...